A EXALTAÇÃO DE CRISTO

24-12-2010 02:21


Charles Haddon Spurgeon 
Um Sermão  
(Nº 101) 
Proferido na manhã do domingo de 2 de novembro de 1856, pelo 
Rev. C. H. Spurgeon
Na New Park Street Chapel, Southwark (Inglaterra).
“Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está 
acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho, 
nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus 
Cristo é o Senhor, para a Glória de Deus Pai”. – Fp 2: 9 –11. 
Quase lamento ter me arriscado a ocupar esse púlpito nesta manhã, porque me 
sinto extremamente incapaz de pregar para benefício de vocês. Eu tinha pensado 
que a quietude e o repouso das duas últimas semanas tivessem afastado os efeitos 
daquela terrível catástrofe; mas ao voltar ao mesmo lugar e, mais especificamente, 
de pé aqui para lhes dirigir a palavra, sinto algo daquelas mesmas emoções dolo8
rosas que por pouco não me abateram antes. Portanto, desculpem8me nesta ma8
nhã se fizer alusão nenhuma, ou quase nenhuma, àquele grave evento. Eu não 
poderia pregar a vocês sobre um assunto que estivesse minimamente associado a 
ele. Seria obrigado a ficar em silêncio se trouxesse à minha lembrança aquela cena 
terrível no meio da qual era minha solene sorte permanecer de pé. Deus prevale8
cerá sobre isso, sem dúvida. Pode não ter sido tanto pela malícia dos homens, 
como alguns afirmaram; talvez fosse mera perversidade – intenção de perturbar 
uma congregação; mas, certamente, não com o pensamento tão terrível de come8
ter um crime como o de assassinar aquelas infelizes criaturas. Deus perdoe os ins8
tigadores daquele terrível ato! Eles têm o meu perdão do mais profundo da mi8
nha alma. Isso não vai nos parar, porém; não estamos nem um pouco amedrontados 
pelo que houve. Eu ainda pregarei lá outra vez; sim, e Deus nos dará almas ali, e 
o império de Satã tremerá mais que nunca. “Se Deus é por nós quem será contra 
                                                          
*
 Este sermão foi a primeira mensagem de Spurgeon em seguida ao desastre no Music Hall em Royal Surrey 
Gardens – no qual sete pessoas perderam as suas vidas quando alguns canalhas propositadamente provocaram 
pânico, mediante alerta de um suposto incêndio, enquanto o Sr. Spurgeon pregava. Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) 
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nós”? O texto que escolhi é o que me confortou e, em grande medida, me capaci8
tou a vir até aqui hoje – tal o poder de conforto sobre o meu espírito deprimido 
da simples reflexão sobre ele. O texto é este: “Por isso Deus o exaltou à mais alta 
posição e lhe deu o nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de 
Jesus se dobre todo o joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra e toda língua 
confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”. Fp 2: 9811. 
Não vou tentar pregar sobre esse texto; farei apenas algumas observações 
que ocorreram à minha mente; porque eu não poderia pregar hoje; fiquei absolu8
tamente incapaz de estudar, mas achei que até umas poucas palavras poderiam 
ser aceitáveis para vocês nesta manhã, e confio aos seus amorosos corações o 
desculparem8nas. Ó, Espírito de Deus! Engrandeça a  sua força na fraqueza do 
seu servo e capacite8o a honrar seu Senhor, mesmo quando a alma dele está de8
sanimada dentro de si. 
Quando a mente é posta com intensidade sobre um objeto, por mais que 
ela seja, por várias calamidades, jogada para lá e para cá, invariavelmente retorna 
ao lugar que tinha escolhido para ser sua moradia. Observem o caso de Davi. 
Quando a batalha tinha sido ganha pelos seus guerreiros, eles voltaram jubilosos 
com a vitória. A mente de Davi havia indubitavelmente sofrido muita perturba8
ção nesse meio tempo; ele tinha temido igualmente tanto os efeitos da vitória 
quanto os da derrota; mas não notam vocês como a mente dele em certo mo8
mento voltou para o querido objeto de suas afeições? “O jovem Absalão está 
bem?” ele disse, como se não importasse mais nada do que havia acontecido, se8
não apenas seu filho a salvo! Assim se dá com os cristãos, amados. No meio das 
calamidades, sejam essas a destruição de nações, o colapso de impérios, a agita8
ção de revoluções ou o flagelo da guerra, a grande pergunta que faz para si (e pa8
ra outros também) é: O Reino de Cristo está em segurança? Em suas aflições pes8
soais, a principal preocupação é: Deus será glorificado e a sua honra aumentada 
com isso? Se assim for, diz ele, ainda que eu não seja mais que um pavio que fu8
mega, se o sol não se escurecer, regozijar8me8ei; e, ainda que eu seja uma cana tri8
lhada, se os pilares do templo estiverem inteiros, o que importa que a minha cana 
esteja trilhada? Ele acha consolação suficiente, no meio de todo aquele despeda8
çamento que sofre, ao pensar que o trono de Cristo permanece estável e firme, e 
que, ainda que a terra tenha balançado debaixo dos pés dele, não obstante, Cristo 
está sobre uma rocha inabalável. Alguns desses sentimentos, julgo eu, passaram 
pelas nossas mentes. Em meio a muitos distúrbios e várias torrentes de pensa8
mentos transtornados, em vai e vem, nossas almas retornam ao querido objeto de 
nossos desejos e achamos não pequena consolação em  dizer, apesar de tudo: 
“Não importa o que será de nós: Deus o exaltou à mais alta posição e  lhe deu o 
nome que está acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) 
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joelho”. 
Esse texto tem proporcionado doce consolo a todos os herdeiros do céu. 
Permitam8me, mui brevemente, apresentar a vocês as  consolações que ele con8
tém. Para o verdadeiro Cristão, há muito conforto no próprio fato da exaltação de Cristo. Em 
segundo lugar, há não pequeno grau de consolação no motivo daquela. “Por isso, também, 
Deus o exaltou à mais alta posição”; isso em virtude de sua humilhação anterior. 
Em terceiro, há não pequena quantidade de conforto realmente divino ao se pen8
sar  na pessoa que exaltou Cristo. Por isso Deus também” – conquanto muitos ho8
mens o desprezem e o ponham para baixo – “Deus também o exaltou à mais alta 
posição”. 
Primeiramente, então, NO PRÓPRIO FATO DA EXALTAÇÃO  DE 
CRISTO EXISTE PARA O VERDADEIRO CRISTÃO UM GRAU MUITO 
GRANDE DE CONFORTO. Muitos de vocês que não têm parte nem sorte nas 
coisas espirituais, não tendo amor por Cristo, nem qualquer desejo pela sua gló8
ria, não farão outra coisa que não rir quando eu disser que isto é uma verdadeira 
garrafa de bebida estimulante ao lábio do cristão exausto: que Cristo, apesar de 
tudo, seja glorificado. Para vocês isso não é consolação, porque lhes falta aquela 
condição do coração que torna esse texto doce para a alma. Para vocês nada exis8
te nele de alegre; ele não mexe com o seu coração; não dá doçura alguma à sua 
vida; precisamente por este motivo, por vocês não estarem ligados à causa de 
Cristo, nem devotadamente buscarem honrá8lo. Mas o  coração do verdadeiro 
cristão pula de alegria, mesmo quando deprimido por tentações e tristezas diver8
sas, com a lembrança de que Cristo está exaltado, pois que nisso ele encontra o 
bastante para alegrar o seu próprio coração. Notem aqui, amados, que o cristão 
tem certos atributos em seu caráter que tornam a exaltação de Cristo um objeto 
de grande regozijo para ele. Primeiro, ele tem, em sua própria opinião — e não 
em sua opinião somente, mas em realidade —, um relacionamento com Cristo e, por8
tanto, sente interesse pelo sucesso dos de sua família. Vocês têm observado a a8
legria do pai quando, passo a passo, o seu menino ascende à opulência ou à fama; 
têm notado como os olhos da mãe faiscaram de deleite quando sua filha se tor8
nou uma mulher adulta e irrompeu em toda a magnitude da beleza. Vocês per8
guntam porque aqueles sentem tal interesse; e se lhes contam que é porque o 
menino era dele, ou a menina era dela. Eles se alegraram com o progresso dos 
seus pequeninos por causa do relacionamento que possuem com esses. Caso não 
houvesse relacionamento nenhum, eles poderiam ter se tornado reis, imperadores 
ou rainhas que aqueles sentiriam apenas um pequeno contentamento. Porém, de8
vido ao parentesco, cada passo era envolvido por um profundo e excitante inte8
resse. Ora, assim é com esse cristão. Ele sente que Jesus Cristo, o glorificado 
“Príncipe dos reis da terra”, é seu irmão. Embora o reverencie como Deus, ele o Monergismo.com – “Ao Senhor pertence a salvação” (Jonas 2:9) 
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admira como homem8Cristo, ossos de seus ossos e carne de sua carne, deleitan8
do8se, em seus plácidos e calmos momentos de comunhão com Jesus, em lhe di8
zer: “Ó Senhor, tu és meu irmão!” Seu canto é “Meu amado é meu, e eu sou do 
meu amado”. É seu gozo cantar: 
Um no sangue com os pecadores, 
Cristo Jesus o é; porque ele é um homem, exatamente como nós: e não é nem 
menos nem mais homem do que o somos, salvo apenas o pecado. Certamente, 
quando sentimos que estamos ligados a Cristo, sua exaltação é a fonte da maior 
alegria para os nossos espíritos; nós nos regozijamos nisso, visto ser um de nossa 
família que é exaltado. É o Irmão Mais Velho da grande e única família de Deus 
nos céus e na terra; é o Irmão a quem todos nós estamos ligados. 
Existe também no cristão não apenas o mero sentimento de relacionamen8
to, mas também um de unidade na causa. Ele sente que, quando Cristo é exaltado, 
ele próprio é exaltado em alguma medida, visto que  tem empatia com o desejo 
daquele de promover a grande causa e glória de Deus no mundo. Eu não tenho 
dúvida de que cada soldado ordinário que permaneceu ao lado do Duque de Wel8
lington se sentiu honrado quando o comandante foi aplaudido pela vitória; pois 
diz: “Eu o ajudei, eu o assisti; não foi de pouca importância a parte que desem8
penhei; tão8somente mantive meu posto; tão8somente  suportei o fogo inimigo; 
contudo, agora a vitória está conquistada. Sinto honra nisso porque ajudei, em 
certa medida, a ganhá8la”. Desse modo, o cristão, quando vê seu Senhor exalta8
do, diz: “É o Capitão que está exaltado, e de sua exaltação todos os soldados 
compartilham. Eu não fiquei do lado dele? Pequena foi a obra que fiz, e pouca a 
força que eu possuía para o servir; mesmo assim, ajudei no trabalho”; e o mais 
ordinário dos soldados nas fileiras espirituais sente que ele próprio está em algu8
ma medida exaltado quando lê isto: “Por isso Deus o exaltou à mais alta posição 
e lhe deu o nome que está acima de todo o nome” – um renome acima de qual8
quer nome — “para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho”. 
Além disso, o cristão não apenas sabe que existe essa unidade em propósi8
to, mas também uma união real entre Cristo e o seu povo todo. É uma doutrina da 
revelação em que raramente se discorre, mas nunca é demais pensar nela – a dou8
trina de que Cristo e seus membros são todos um. Não sabem vocês, amados, 
que cada membro da igreja de Cristo é um membro do próprio Cristo? Nós so8
mos “sua carne e seus ossos”, partes do seu grande corpo místico; e quando le8